Foi um mágico final de tarde passado no número 16 da Rua Coelho da Rocha. Persuadido por aquela voz inconfundível da rádio e do pequeno ecrã, acostumei-me a aceder à intimidade do seu universo e dos seus entrevistados. Mas desta vez foi a própria, regressada da bela Sicília, a contar aquilo que vem promovendo o seu eterno namoro com a leitura, os livros que foram e continuam a ser preciosos para a sua existência, as obras que a marcaram e que ainda a fazem estremecer. Maria Joao Seixas (MJS), mulher que integra a Ordem daqueles que habitam as palavras, foi a desafiada de Os Livros que não Esqueci (2.ª edição a que assisto), na Casa Fernando Pessoa. Quando escuto alguém que estimo falar dos livros que marcaram a sua vida sinto-me convidado a entrar inesperadamente na sua torre de marfim e aí encontrar preciosidades que também me pertencem. Algumas das obras que foram aludidas por esta descendente de Sherazade são peças belíssimas: As Mil e Uma Noites (cereja em cima bolo); Nós Matámos o Cão Tinhoso, de Luís Bernardo Honwana; Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa; Odisseia, de Homero; Antígona, de Sófocles; A Apologia de Sócrates, de Platão; Os Cadernos de Malte Laurids Bridge, de Rilke; A Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar; As Palmeiras Bravas, de W. Faulkner; O Poema Contínuo, de Herberto Hélder; Genji Monogatari, de 紫 式部. Quase noite e ainda viajava na lírica de Camões, na poesia do gaúcho Mário Quintana, nas comarcas literárias de Clarice Lispector e Yourcenar e já na última estação o bilhete é validado pelo Isto de Pessoa…
Nesta rota de livros e afectos, Maria João disse ainda com enorme sensibilidade Carlos Drummond de Andrade:
Era manhã de setembro
e
ela me beijava o membro
Aviões e nuvens passavam
coros negros rebramiam
ela me beijava o membro
O meu tempo de menino
o meu tempo ainda futuro
cruzados floriam junto
Ela me beijava o membro
Um passarinho cantava,
bem dentro da árvore, dentro
da terra, de mim, da morte
Morte e primavera em rama
disputavam-se na água clara
água que dobrava a sede
Ela me beijava o membro
Tudo que eu tivera sido
quanto me fora defeso
já não formava sentido
Somente a rosda crispada
o talo ardente, uma flama
aquele êxtase na grama
Ela a me beijar o membro
Dos beijos era o mais casto
Interessante seria que a MJS, ela própria, se aventurasse pelos territórios da ficção.
Bem sei que o tempo não é elástico e que a pilha de romances e afins que chegam às minhas livrarias preferidas (incluindo as virtuais) já me olha de soslaio. Destaco algumas das obras inscritas na minha lista de espera: Pais e Filhos, do russo Turgueniev [já na mesinha de cabeceira], Praça de Londres, de Lídia Jorge, Venenos de Deus, Remédios do Diabo, de Mia Couto, Night Train to Lisbon, de Pascal Mercier ou tão diferentes como a biografia da Hillary Clinton, a A Patagónia, do viajante Bruce Chatwin, a escrita pungente de Etty Hillesum - letters from Westerbork, a prosa do poeta Alexandre O’ Neill, em Já Cá Não Está Quem Falou ou mesmo icons of Jazz, de Dave Gelly. Mas não perdem por esperar. E, que venham mais e mais para me inquietar o espírito…).
Nesta rota de livros e afectos, Maria João disse ainda com enorme sensibilidade Carlos Drummond de Andrade:
Era manhã de setembro
e
ela me beijava o membro
Aviões e nuvens passavam
coros negros rebramiam
ela me beijava o membro
O meu tempo de menino
o meu tempo ainda futuro
cruzados floriam junto
Ela me beijava o membro
Um passarinho cantava,
bem dentro da árvore, dentro
da terra, de mim, da morte
Morte e primavera em rama
disputavam-se na água clara
água que dobrava a sede
Ela me beijava o membro
Tudo que eu tivera sido
quanto me fora defeso
já não formava sentido
Somente a rosda crispada
o talo ardente, uma flama
aquele êxtase na grama
Ela a me beijar o membro
Dos beijos era o mais casto
Interessante seria que a MJS, ela própria, se aventurasse pelos territórios da ficção.
Bem sei que o tempo não é elástico e que a pilha de romances e afins que chegam às minhas livrarias preferidas (incluindo as virtuais) já me olha de soslaio. Destaco algumas das obras inscritas na minha lista de espera: Pais e Filhos, do russo Turgueniev [já na mesinha de cabeceira], Praça de Londres, de Lídia Jorge, Venenos de Deus, Remédios do Diabo, de Mia Couto, Night Train to Lisbon, de Pascal Mercier ou tão diferentes como a biografia da Hillary Clinton, a A Patagónia, do viajante Bruce Chatwin, a escrita pungente de Etty Hillesum - letters from Westerbork, a prosa do poeta Alexandre O’ Neill, em Já Cá Não Está Quem Falou ou mesmo icons of Jazz, de Dave Gelly. Mas não perdem por esperar. E, que venham mais e mais para me inquietar o espírito…).
11 comments:
Sempre achei que a Maria João não precisava de se colocar em bicos de pés para nos deliciar com o que nos quer contar (ao contrário de vários intelectuais que, mais conhecidos - mais alpinistas portanto - têm de suar muito para nos prenderem ao seu discurso).
E quem sugere esses livros do seu top, não é, definitivamente, gaga. ;)
A tua lista - bem interessante - tem o mal de muitas outras listas. É de espera.
Meu Deus
eu só devo poder ler tudo o que tenho para ler na próxima encarnação...é uma vergonha, mas é verdade.
Já sabes, porque te disse por telefone, o desafio que tens no meu blog; espero e estou certo que lhe vais dar (à história) um ritmo novo, ao teu bom estilo.
Abraço.
Hoje mesmo na fnac fiz uns estragos... e comprei o do Mia Couto... (também tenho uma lista de espera) :)
Que dizer do Carlos Drummond de Andrade? Que é excelente, e é pouco...
Eu terminei ontem um que me deixou a pensar. Aquele que começar a ler hoje tem que ser seguramente mais leve...
interesante listo. gosto especialmente do chatwin, de quem li colina negra. recomendo-lho tb. um saudozinho do norte.
ai, este poema parece mesmo a descrição da vida que agora levo aqui na floresta.
coelhinho
força é coisa que nunca me faltou, mas mesmo os fortes tem momentos vazios...obrigada sofia
Luís
muito obrigado pela tua rota de livros e afectos.
O que eu tenho para oferecer é uma visita virtual aos glaciares, se estiveres interessado, vem comigo.
Ou então, uma sugestão bem mais perto: que tal uma visita à Rota das Tabernas?
Huuummmmm, que cheirinho a jaquinzinhos fritos.
Bom fim de semana.
Abracinhos.
Amigo Luís,
e a minha pilha também não pára de crescer...e o tempo vai ser muito , muito pouco!!!!
Enfim,
A seu tempo...
Uma listagem de olbras bem interessantes. Algumas já li e posso destacar " Nós matámos o cão tinhoso"...que foi a chave de abrir o meu olhar para o mundo da literatura africana!!!!
Boas leituras!!!!
tantas sugestões...
ouvir os outros falar dos seus livros é um convite a passarmos em revista os nossos e sermos invadidos pelo gosto dos outros. é daquelas experiências de partilha quase mágica. a MJSeixas partilha dessa capacidade mágica de envolvimento.
quanto às tentações que apresentas, são muitas, mas primeiro tenho os livros em espera a aguardarem a minha atenção.
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